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Channel: Blog 365 Filmes - Cinema além dos créditos finais
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"Um Perfil para Dois" e o amor na era virtual

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O francês Um Perfil para Dois (Stéphane Robelin, 2017) conta a história de Pierre (Pierre Richard), um viúvo aposentado que não sai de casa há mais de dois anos, tem a chance de voltar a viver novamente com a ajuda da internet e Alex, um homem contratado por sua filha para ensiná-lo a usar o computador. Pierre cria um perfil em um site de namoro, conhece a linda jovem Flora (Fanny Valette), e decide marcar um encontro - mas a foto que usou no perfil é de Alex, e não dele.

O longa é mais um exemplar do sub gênero cômico da “confusão de identidade”, na qual a hilaridade é construída a partir de situações onde os personagens trocam ou tem suas identidade confundidas. Aqui, este objetivo é complicado já no primeiro ato, bastante apressado em colocar a trama em movimento, optando por algumas sínteses narrativas - como saltos temporais - que não contribuem para a criação de uma empatia do público com os personagens apresentados, pouco explorando o potencial cômico de elementos como rixas familiares e insatisfações conjugais, evocando, consequentemente, mais o drama do que a comédia.

Ao longo do filme, apesar dos traços de personalidade dos personagens se manterem relativamente os mesmos, as situações vividas pela dupla improvável Pierre e Alex consegue torná-los mais afáveis, ainda que a credibilidade inicial da premissa cada vez mais se perca para dar lugar às situações cômicas, especialmente após a introdução de Flora. Os melhores momentos de comédia no filme, apesar de pouco originais, surgem nas situações onde há uma dinâmica de antecipação de informações para o público, enquanto os personagens permanecem alheios ao contexto completo das situações.

O filme é bem produzido, mas por conta de não balancear tão bem o humor e o drama - elementos que funcionam bem individualmente - e apelar para um desfecho protocolar justificado de maneira um tanto forçada, tem um saldo final não tão positivo.

A propagação do olhar e da alma em 'A Dupla Vida de Véronique'

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A propagação do olhar e da alma em 'A Dupla Vida de Véronique'
Uma obra maravilhosamente introspectiva, A Dupla Vida de Véroniqueé recorrentemente citado como uma obra artística de valor dos anos 90 e marco no que fomentaria o novo cinema europeu.

Os filmes e demais trabalhos de Krzysztof Kieslowski estão entre os mais cultuados nos cineclubes e prateleiras de coleção dos cinéfilos. O cineasta polonês que ostenta uma filmografia de (muito) mais altos que baixos, tem no pensamento íntimo o seu cerne. Por mais que filmes como Amador, Sorte Cega e A Liberdade é Azul sejam verdadeiras pinturas em movimento tamanha qualidade cinematográfica, a arte de Kieslowski aponta mesmo é para o mistérios da alma como indivíduos e coletivo. Seu documentário curta-metragem Gadajace Glowy (Talking Heads) talvez seja o melhor simulacro do que sua obra representa.

A Dupla Vida de Véronique narra a história de duas mulheres estranhamente conectadas. A primeira, Weronika, é uma soprano polonesa que tem problemas cardíacos e sonha entrar para um grande coral. Já Veronique, francesa de Paris, é uma professora de música que após um desconforto existencial embarca numa complicada relação amorosa com um titereiro. Ambas vividas pela imponente Irène Jacob (agraciada com o prêmio de Melhor Atriz em Cannes pelo trabalho, e profissional com quem Kieslowski trabalharia mais uma vez em A Fraternidade é Vermelha), que está assustadoramente expressiva no filme.

Aparentemente, as duas jovens sentem a presença uma da outra e os atos de uma geram consequências na vida da outra. Não é como o tradicional duplo/doppelganger, não há antagonismo, suas histórias convergem nesse entrelaçamento. À medida que o filme tece tons ensaísticos, também se apega à força das protagonistas para instigar o espectador a adentrar seu universo - e infinito - particular. E cada enquadramento, iluminação e movimento de câmera fotografados por Slawomir Idziak valorizam suas vidas, ambientes, sentimentos, posses e olhares.

É o primeiro filme francês do diretor, que acabara de filmar O Decálogo, sua série para TV baseada nos dez mandamentos. A partir desse relacionamento, a Trilogia das Cores seria concebida logo a seguir. A relação entre os países co-produtores do filme, a Polônia e a França, também faz parte da narrativa que alterna sua história entre Cracóvia e Paris, onde vivem as, chamemos assim de... Verônicas. As críticas sociais bem inseridas àqueles estados, já vistas em alguns episódios do Decálogo (particularmente acentuadas em Não Matarás, que também é fotografado por Idziak, e retomado em A Igualdade é Branca) aqui estão mais brandas, sob a forma de passeatas e movimentos urbanos que acontecem em plano de fundo.

A força com que A Dupla Vida de Véronique impacta abre discussões sobre paixão, relacionamentos, solidão, vida, morte, destino e acaso. É um filme que demanda mais que atenção, também requer disposição para sua completa apreciação. Suas revisões são cada vez mais prazerosas justamente por se apresentar como uma obra envolvente, que transforma a atenção em inspiração. Ao mesmo tempo em que é cativante pela história contada no roteiro, também funciona como um buraco negro que traga o espectador universo adentro. Um grande filme de um grande cineasta desperto para nossos maiores conflitos, subjetividades e para os mínimos detalhes da vida, estes, que fazem a jornada terrena tão bela.

Human Flow - Cinema Além de Fronteiras

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Human Flow - Não existe lar se não há para onde ir (2017) é o maior e mais recente projeto do artista visual chinês Ai Weiwei, que ao longo de um ano, acompanhou a crise de refugiados em 23 países, incluindo França, Grécia, Alemanha, Iraque, Afeganistão, México, Turquia, Bangladesh e Quênia, registrando as dificuldades e os depoimentos de milhares de pessoas que abandonaram seus países de origem por conta de guerra, miséria e perseguição política.

Para registrar essas situações extremas, Weiwei opta por uma abordagem de aproximação, colocando-se em frente às câmeras e dialogando frequentemente com os entrevistados, o que lhe rendeu críticas por sua suposta “vaidade” enquanto figura pública. Sendo verdade ou não, a decisão acrescenta uma camada extra ao filme, já que o próprio Weiwei foi preso pelo governo chinês, mas hoje em liberdade, foi capaz de transitar livremente por todos esses locais sem sofrer represálias, por conta do seu status de artista.

Questões éticas à parte, é inegável a sensibilidade estética do filme, que consegue produzir imagens belíssimas, mesmo em contextos de sofrimento humano, criando um interessante jogo estético ao utilizar uma variedade de dispositivos para capturar essas imagens, de câmeras de celular a drones, em um frequente jogo de alternância entre proximidade e distanciamento. O apuro visual do filme enquanto documentário, gênero geralmente relegado a estéticas mais funcionais, lembra a abordagem de Alain Resnais no antológico Noite e Neblina (1955).


O filme chama atenção por evitar uma dramatização artificial das vivências dos entrevistados, sem eleger “personagens” específicos para conduzir a narrativa. Ao invés disso, opta por construir uma unidade de discursos a partir da multiculturalidade dos entrevistados, espalhados pelo globo e separados por fronteiras, mas de alguma forma aproximados por seus relatos, reunidos no filme como um poderoso coro humano.

O filme é longo, e tem uma preocupação visível com uma certa “limpeza do paladar” do espectador, alternando cenas de conteúdo mais perturbador com registros de paisagens, citações filosóficas e poéticas e entrevistas de autoridades políticas. O aspecto político, aliás, é o ponto frágil do filme, pois o foco no aspecto humano não necessitaria se estabelecer em detrimento de um posicionamento discursivo mais aprofundado e incisivo, disposto a ir além do mero registro documental, ainda que mesmo dentro de suas pretensões contidas, Human Flow seja um dos filmes mais importantes da década.


O estilo neo-noir em Baby Driver

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Lançado em julho deste ano no Brasil, Baby Driver– ou Em Ritmo de Fuga– foi sucesso de crítica e se tornou a melhor bilheteria de estreia do diretor Edgar Wright, já conhecido por ter sido o roteirista de Homem Formiga (2015) e diretor em Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010) e Trilogia do Sangue e Sorvete (2004-13).

O longa conta a trajetória de Baby (Ansel Elgort), um jovem e habilidoso piloto de fuga que trabalha há anos para o mafioso Doc (Kevin Spacey), mas planeja largar o emprego, ainda mais depois que conhece a garota dos seus sonhos, Debora (Lily James). A premissa da história é simples e ela seguiria aquele conhecido caminho trivial dos filmes de ação não fosse a direção de Wright, o uso brilhante da trilha sonora e a retomada bem-sucedida de elementos que trazem à tela um dos mais influentes subgêneros dos filmes policiais, o neo-noir. 

Humphrey Bogart e Mary Astor em 'O Falcão Maltês', de 1941. Bogart é considerado ator ícone do Cinema Noir
O estilo provém do Cinema Noir, que nasceu em meados nos anos 1940, quando Hollywood importou particularidades dos filmes expressionistas, movimento cinematográfico alemão (já falamos sobre o gênero aqui), que tinham como características marcantes uma baixa iluminação e o jogo de luz e sombra que ajudava a criar uma atmosfera pessimista e sombria. 

A partir de tais particularidades, o gênero noir tratava de assuntos como crime e corrupção, em que os personagens se viam inseridos num cenário urbano ameaçador e em uma sociedade adversa aos valores morais. A corrente cinematográfica abordava também o obscuro comportamento humano, onde o protagonista era sempre um anti-herói desiludido, cínico e pessimista, mas que conseguia resolver os casos mercenários em que se envolvia. O crime a ser desvendado muitas vezes o levava a conhecer algum desses protótipos: uma femme fatale, a icônica mulher sedutora, individualista e imoral ou a mocinha, encantadora e atenciosa. 

Jack Nicholson em 'Chinatown', de Roman Polanski
O gênero foi perdendo força até o final de 1957, o que despertou a partir daí diretores propostos a criarem uma “releitura” dos elementos mais usados. Perdurando ao longo das décadas seguintes, o estilo ganhou o nome de neo-noir, onde o antigo molde do movimento foi, em partes, atualizado pela tecnologia dos avanços cinematográficos, temas e conteúdos recentes acompanhando os novos contextos históricos.

Esse é o caso de Chinatown (Polanski, 1974), Blade Runner - O Caçador de Androides (Ridley Scott, 1982), Cães de Aluguel (Tarantino, 1992), Sin City (2005), Drive (Nicolas Winding, 2011), entre tantos outros. A máfia se mantém presente junto com um clima hostil e personagens céticos. 

Ansel Elgort, Baby, dirige guiado pelas batidas das músicas de sua playlist
Baby Driver segue essa linha, com um roteiro inteligente, diálogos rápidos e sarcásticos e flashbacks. O filme entra de cabeça no universo neo-noir e utiliza seus elementos de forma brilhante.

Baby é o anti-herói perfeito: misterioso, solitário, introvertido e talentoso em seus serviços, ele é envolvido da cabeça aos pés no mundo do crime em meio a “vilões”, mas se mantém honesto na medida do possível (como devolver a bolsa da senhora a qual ele rouba o carro, por exemplo) e tem consciência sobre seus princípios. 

Debora, junto com Darling– personagem de Eiza González - representam com êxito as mulheres do cinema noir. Enquanto uma é a ideal femme fatale, atraente e disposta a qualquer coisa para sair por cima, Debora é dócil e enigmática, além de ser o principal estímulo à redenção de Baby. 

O roteirista e diretor Edgar Wright teve a ideia para o roteiro do filme em 1994
Para não sumir na história, os gêneros estão sempre se reinventando através do olhar dos diretores. Por isso é mais comum do que imaginamos conseguir identificar componentes de relevância em filmes de um movimento cinematográfico de 1940 sendo reciclados em filmes atuais.

Baby Driver é recheado de personagens ásperos e cativantes, situações caóticas e reviravoltas surpreendentes. Com um adequado uso do humor, o longa resgata o melhor que há em filmes de perseguição, lançando novos ingredientes para que os seguidores do gênero continuem criando em cima de um movimento tão sólido e importante para o cinema.

E você, notou esses elementos e proximidade?

'Verão 1993' e a desordem emocional perante a perda

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Frida é uma menina de seis anos de idade que acaba de perder sua mãe devido à AIDS – assim como seu pai anteriormente – e é adotada pela família de seus tios, que a recebem de braços abertos em uma agradável casa no campo. Para uma menina de seis anos, constitui evento de grande importância. Carla Simón sabe disso e, em seu primeiro longa-metragem, consegue entregar um trabalho primoroso, explorando as diversas nuances emocionais que permeiam a questão em um equilíbrio técnico de dar inveja a diretores calejados.

Premiado em diversos festivais – Berlim, Buenos Aires, Istambul etc - e escolhido como representante espanhol no Oscar de Filme Estrangeiro, Verão 1993é um filme escrito e dirigido por Carla Simón, responsável pelos curtas-metragens Lipstick e Las Pequeñas Cosas, além do documentário Born Positive. Relatando sua infância, Simón ambienta o filme na Catalunha de 1993 – nesse ponto, créditos ao diretor de fotografia Santiago Racaj, que consegue trazer uma atmosfera agradável e tranquila – e conta com a atuação impecável das atrizes mirins Laia Artigas e Paula Robles, nomes que devem ascender em anos vindouros.


Delicada e ao mesmo tempo mordaz, a forma com que Frida lida com seus sentimentos – nebulosos e confusos– estabelece atitude importante na trama. Como criança, não compreende adequadamente o significado de eventos como a morte dos pais e início de vida em outro lugar com nova família – evento que altera significativamente a dinâmica do cotidiano de todos. Isso fica explícito na atuação de Laia Artigas, que não emprega excessos e concomitantemente transmite o espanto e desordem característicos da conjuntura. 

Não obstante ser tão nova, a personagem de Artigas é consideravelmente complexa. Apresenta uma clara dicotomia entre o infantil, característica circunstancial de sua existência – como quando recusa-se a amarrar os sapatos e faz birra - e o pesar provocado pela sensação de não pertencimento, mesclada aos desordenados sentimentos de luto– como quando decide-se independente e foge de casa. Mérito de Simón por ter sido capaz de conduzir a trama e atuação de Laia por percursos tão convincentes.

É interessante notar que Frida, mesmo que estruturalmente bem assistida – seus tios são boas pessoas e dispõem de condição financeira estável – expõe notável inconstância sentimental. O psicólogo americano Abraham Maslow tornou-se conhecido pela teoria da Hierarquia de Necessidades, em que apresenta, em níveis, uma organização básica das carências humanas. A pirâmide, em seu nível mais baixo, mostra necessidades fisiológicas e, ao se aproximar do topo, aparecem necessidades emocionais como realização pessoal e estima. No contexto de Frida, faz total sentido. O estabelecimento de vínculos com uma nova família não concebe tarefa fácil, ao passo que a saudade dos pais é pungente – em uma das cenas, interagindo com sua prima, Anna, Frida imita sua mãe, fumando e reproduzindo seus trejeitos. Talvez seja uma forma de lidar com a perda. 

A maneira com que o filme é conduzido a partir da perspectiva da protagonista é fascinante: o roteiro, a despeito de ser bem construído, apenas fornece informações necessárias para a compreensão do telespectador atento – e somente quando Frida escuta-as dos adultos conversando (e ignorando sua presença). Em muitas tomadas, por exemplo, a câmera se posiciona na altura da personagem, provocando um impacto imersivo em quem assiste. 

A cena em que Frida conversa com sua tia Marga sobre sua mãe e as eventualidades da morte é tocante, mesmo tecnicamente. Extremamente fluída e espontânea, causa em quem assiste a impressão de que as atrizes esqueceram-se que estão atuando. O filme segue num crescente até a cena final, carregada de emoção e significado para a obra. É com certeza seu ápice. Apesar da dificuldade em encontrar a audiência certa, Verão 1993 é bonito e profundamente pessoal. Simón soube como tratar de temas problemáticos com sutileza e requinte, proporcionando um trabalho notável e forte concorrente as premiações da academia.

'Lucky' - A arte que imita a vida

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Longa de estreia de John Carroll Lynch na direção, Lucky (2017) acompanha a jornada do personagem homônimo, um tempestuoso, independente e ateu nonagenário, que tendo sobrevivido aos seus contemporâneos, confronta sua própria mortalidade e finitude, buscando o que costuma ser inatingível: a paz interior.

O filme foi um dos últimos trabalhos do consagrado ator Harry Dean Stanton, que faleceu em setembro deste ano, deixando aqui uma das melhores interpretações da sua carreira, na qual inevitavelmente vida e arte se confundem, como sempre fizeram na carreira de um ator que disse tantas vezes “não atuar”. Este talvez tenha sido um elemento de aproximação com o personagem, perfeitamente realizado e verossímil.

É notável o cuidado e a sensibilidade do filme ao contextualizar o cotidiano de Lucky, imbuindo seu primeiro ato com repetições narrativas e estéticas que ganham outros significados à medida em que a história se desenvolve. Lucky aflora sua interioridade e interage com os demais personagens, projetando em todos à sua volta sua visão de mundo, ao mesmo tempo em que as tem completamente abaladas ao experimentar novas sensações e rememorar sua trajetória pessoal.

Apesar de brilhantemente conduzido por Stanton, o filme conta também com um afinado elenco de coadjuvantes (entre eles, ninguém menos que David Lynch) que compõem uma unidade de personagens de apoio que trazem suas próprias mazelas, dialogando, diretamente ou não, com o drama de Lucky.

Mesmo não chamando tanta atenção para si neste aspecto, provavelmente evitando operar em detrimento da narrativa, o filme conta com uma estética bastante interessante, especialmente quando trabalha suas metáforas visuais em conjunto com a narrativa. Exemplo disso está nos precisos planos estáticos e bastante abertos mapeando o ambiente árido que cerca Lucky, ou nos planos mais próximos que acompanham suas deambulações e capturam as nuances de suas expressões.

O resultado final é um filme que alcança suas pretensões sutis graças a uma série de decisões criativas que não rejeitam a narrativa do “lugar comum” e do “desdramatizado”, mas vão ao encontro destes elementos para criar uma sensação de familiaridade e aproximação com o espectador, que embora possa até não se ver na tela, compreende o que é sentido ali e compartilha da catarse filosófica e cinematográfica proposta pelo longa.

De Kidman a Gyllenhaal: Atores do ano protagonizam Curtas de Terror

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Como já é tradição, a edição de dezembro da revista da "The New York Times" traz alguns dos atores e atrizes com as performances que mais se destacaram no cinema no ano. Em 2017, os nomes vão desde os consagrados Andy Serkis e Nicole Kidman aos novos talentos, como Timothée Chalamet.

Eles foram convidados pela revista para encarar personagens excêntricos e macabros em curtas (todos com média de 1 minuto) de Terror, revisitando e mixando clássicos do gênero. Que tal "A Dançarina Macabra"? Ou talvez "O Palhaço Demente"? Você pode assistir a todos eles logo aqui em baixo, começando com "A Possuída".

A série "Horror Show films" tem direção de Floria Sigismondi.


Qual foi o seu favorito?


Tags: Nicole Kidman, Andy Serkis, Daniela Vega, Timothée Chalamet, Saoirse Ronan, Brooklynn Prince, Cynthia Nixon, Daniel Kaluuya, Tiffany Haddish, Jake Gyllenhaal.

Entre o encanto e a melancolia de 'Encontros e Desencontros', por Sofia Coppola

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Sofia Coppola tem um dom artístico inegável: extrai de maneira singular a graça da tristeza e exprime isso para a fotografia em movimento numa tela, executa isso com maestria. Toda sua obra, que em seus filmes abordam diferentes fases da vida – especialmente da feminina - esbanjando desolação, pelos fardos e delícias nas vidas das personagens traçadas por sua lente. Samba da Benção, a canção em que Vinícius de Morais e Baden Powell escreveram “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”, não tem a menor relação com o título que Lost in Translation, segundo filme da cineasta americana, recebeu no Brasil. Mas assim, solta, é perfeitamente relacionável com Encontros e Desencontros.

No filme, Bob Harris (Bill Murray) é uma estrela de cinema em decadência que está em Tóquio para a gravação de um comercial de uísque, enquanto Charlotte (Scarlett Johansson), formada em filosofia, acompanha o marido, com quem é casada há dois anos e veio à cidade para fotografar uma banda local. Eles se conhecem no hotel, onde estão enclausurados graças a seus compromissos. Se Bob não vê a hora de voltar para casa enquanto sua equipe acumula compromissos em sua agenda, Charlotte parece desesperada para aproveitar a estadia na luminosa cidade, mas é impossibilitada pelo marido workaholic que a vive deixando de lado durante todo o filme. Há uma mútua empatia entre os protagonistas, que se entendem pelos problemas que compartilham, pelos sonhos que são impossibilitados de realizar e pela dependência que tem de outras pessoas.

Por mais que os dois se divirtam, a angústia e desconforto que ambos sentem paira no ar de cada ambiente da efervescente Tóquio. Há um contraste incessante entre a comédia inerente à persona que Bill Murray encarna com a tristeza que também lhe é característica, seu personagem é quem dá o tom para o filme. Por mais que Charlotte tome iniciativa em algumas ações, como o primeiro contato, por exemplo, é Harris quem toma conta de cada situação. Claro, isso não diminui a importância de Charlotte para o filme, são personagens simbióticos, pessoas completamente estranhas perdidas à vagar pela vida, e à deriva das relações superficiais. Cheios de incertezas, pessoais e profissionais; Com dificuldades de encarar passado, presente e futuro.

Um detalhe importante da obra é a expansão da solidão coletiva, com a qual Sofia já havia lidado tão bem em 'As Virgens Suicidas'. Charlotte é jovem e recém formada em filosofia, Bob já tem vinte e cinco anos só de casamento; Por mais que a maioria das pessoas não tenham a possibilidade de seguir carreira assentada no intelecto e, muito menos, conhecer o Japão - uma alegoria para um local estranho e desconexo (a principal nota disso são os personagens japoneses, traçados de certa forma até agressiva – além dos estereótipos). Bob e Charlotte, nos momentos em que estão juntos, são contagiados um pelo outro. Ele, pela jovialidade e desinibição dela, enquanto ela, por sua autenticidade e firmeza.

Almas desconexas da sociedade, que se reconhecem como gêmeas neste encontro. Mesmo com uma linguagem própria, distinta de filmes semelhantes e da própria filmografia da diretora, Encontros e Desencontros traz muitos traços da assinatura de Sofia Coppola em seu ritmo e estética, uma obra essencialmente bela e extremamente difícil de descrever com palavras. Há também a aproximação do conceito de felicidade volátil traçado pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche, de que na vida a verdadeira felicidade só pode ser experimentada em momentos pontuais.

Por um curto período, mesmo enquanto compartilhavam suas frustrações, o casal protagonista vivenciava uma conexão rara e legítima que culminaria no beijo de despedida, seguido pelo sussurro de Bob ao pé do ouvido de Charlotte, algo íntimo e terno próprio da diretora Sofia Coppola. Eles desfrutaram, um ao lado do outro, a sensação de que são pessoas que fazem da vida algo tão valioso. São pessoas que nos servem como alívio, refúgio e depósito de esperanças – então, é normal que pessoas se separem ao decorrer do percurso, mas que o que verdadeiramente importa são os vínculos que temos agora. Porque, como também cantou Vinícius: “é melhor ser alegre que ser triste”.



A ambição de Christopher Nolan em Dunkirk

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Entre fim de maio e início de junho de 1940, quase quatrocentos mil soldados aliados foram encurralados nas praias da cidade francesa de Dunquerque e, sob intenso bombardeiro, a Operação Dínamo tinha como principal objetivo evacuar as hostes britânicas para a cidade inglesa de Dover. É nesse contexto que Christopher Nolan aparece com um suspense épico tratando-se menos sobre a guerra propriamente dita do que centrado acerca do homem exposto a tais conjunturas. Angustiante e ambicioso, Dunkirk apresenta um roteiro simples, mas inflado pela narrativa fragmentada em três atos não necessariamente lineares que conduzem o telespectador através de situações inquietantes, utilizando-se de inúmeros recursos cinematográficos disponíveis para a construção da imersão claustrofóbica permeada de expectativa característica das produções do diretor.

A história é narrada a partir de personagens que parecem ter sido escolhidos aleatoriamente: apenas indivíduos entre outros milhares de soldados, o que faz muito sentido tendo em vista que nas circunstâncias apresentadas ninguém é privilegiado, mas, ao contrário, são apenas números em um tratamento coletivo e desumanizado– como na cena em que pedem para Tommy e Gibson deixarem o navio mesmo após carregarem um corpo ferido pelo tortuoso e longo caminho da praia até a embarcação – ainda que a intenção não tenha sido necessariamente ajuda-lo. Muitas das críticas negativas ao enredo, porém, concentram-se na negligência do roteiro em desenvolver os personagens. Ora, o próprio exercício da empatia opera tal função: mesmo que não se conheça a história do piloto Farrier, por exemplo, é natural que fiquemos tristes ao nos deparar com o desfecho de sua história.

Todo o núcleo na praia dura cerca de uma semana, ao passo que no mar e no ar o tratamento temporal é diferente: um dia e uma hora, respectivamente – nada surpreendente no que concerne a Christopher Nolan -, mas que também suscitou debates entre os críticos no que tange ao comprometimento do suspense da narrativa. Fato é que o roteiro soube como se organizar mesmo com uma estrutura não linear: a cena em que Farrier abate o avião inimigo enquanto Sr. Dawson dá instruções ao filho para desviar o barco do caça alemão são ambas intercaladas e seu desenlace coincidente, carregado de alívio e satisfação, não a torna confusa, mas, ao contrário, constitui importante recurso cinematográfico.

É interessante notar certas nuances emocionais que permeiam a narrativa. Em alguns momentos de sentimentos à flor da pele, os soldados desprezam-se a si mesmos no egoísmo desesperado perante as incertezas de sobrevivência, como quando decidem eleger um voluntário para sair do navio que, contendo demasiado peso, não é capaz de sobrenadar. Controverso, mas, ao mesmo tempo, a única solução para o obstáculo que os impedem de voltar para casa. Em cena posterior, a salvo numa pequena embarcação civil, entreolham-se e acenam a cabeça, evidenciando um sentimento de irmandade próprio daqueles que passaram juntos por tão árdua situação.

É preciso, ainda, reconhecer o discernimento de Nolan na escolha das pessoas com quem trabalha. Em aspectos técnicos, seus filmes destacam-se pela fotografia e trilha sonora e com Dunkirk não poderia ser diferente: novamente, a música ficou a cargo de Hans Zimmer, em uma das mais bem-sucedidas parcerias do cinema atual – o compositor, após a realização de trabalhos excepcionais em Interestelar e A Origem, consegue intercalar a trilha sonora com momentos de silêncio próprios da conjuntura, conduzindo quem assiste pelos percalços emocionais das batalhas, ainda que inconscientemente. Hoyte Van Hoytema– que já colaborou com Nolan em Interestelar e com Spinke Jonze em Ela - foi o responsável pela fotografia: crua, pesada, cinza, desoladora e bonita. Mas o destaque, aqui, é Richard King– vencedor do Oscar de Melhor Edição de Som três vezes, duas delas por filmes dirigidos por Nolan –, encarregado da montagem de sons dos aviões e barcos da época, tão intensos e assustadores quanto as explosões. Por si só, uma obra prima auditiva.

Dunkirk, no mais modesto dos elogios, é um ótimo trabalho. Pretensioso, visualmente impecável e repleto de cenas asfixiantes acompanhadas sempre por sons e músicas esmerados, mostra a guerra em toda sua tristeza e complexidade, permeado de drama mesmo nos momentos mais banais.

[Infográfico] Calendário de Principais Lançamentos do Cinema em 2018

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O Cinema em 2018 reserva filmes para todos os gostos. Confira o infográfico especial que preparamos com as principais estreias do ano.

Você também pode baixar o infográfico em PDF: clique aqui.

Clique na imagem abaixo para ampliá-la:



O que Lady Bird tem de especial?

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Quando Lady Bird quebrou o recorde de melhor avaliação na história do site Rotten Tomatoes, a notícia foi recebida com surpresa. Todo ano o cinema norte-americano se enche de dramas adolescentes sobre os conflitos de se tornar, supostamente, um adulto - os famosos filmes coming of age. Então, o que Lady Bird teria de tão especial?

Christine McPherson (ou “Lady Bird”, como prefere ser chamada) luta para se libertar de todas as amarras criadas por sua vida no interior, que vão desde seu próprio nome até sua mãe. Em meio à paranoia e à crise identitária estadunidense, que sucedem os atentados de 11 de setembro, Lady Bird (Saoirse Ronan) tem que enfrentar a realidade de seus sonhos num ambiente “do lado errado dos trilhos do trem”. A história, em sua base, parece similar com muitas outras existentes por aí, mas a produção independente não teria explodido sem ter trazido elementos novos para a fórmula - e a grande responsável por isso é a roteirista e diretora Greta Gerwig.

Saoirse Ronan e Greta Gerwig nos bastidores do filme.
Há tempos, Gerwig vem chamando a atenção de um público limitado de cinéfilos, universitários e frequentadores de festivais. Ela despontou em 2007, co-escrevendo “Hannah Sobe as Escadas” com Joe Swanberg. Desde então estrelou e co-escreveu dois sucessos do cinema independente - “Frances Ha” (2012) e “Mistress America” (2015) - além de ter tido pequenas participações em dois indicados ao Oscar - “Jackie” (Pablo Larrain, 2016) e “Mulheres do Século 20” (Mike Mills, 2016). Essa é a estreia dela como diretora e também a primeira vez em que carrega sozinha os créditos pelo roteiro! 

Com uma pequena raiz autobiográfica, Greta Gerwig constrói uma história que soa muito familiar, mas que é única e diferente. Pelos corredores de uma escola católica regida por freiras, nós vemos diversos rótulos já desgastados: a garota popular, o anarquista 'diferentão', o professor galã. Gerwig cria e desenvolve suas personagens sem julgamentos. Cada indivíduo que circunda a protagonista recebe uma sub-narrativa própria e complexa que, mesmo não aparecendo em tela, impede que se tornem apenas estereótipos unilaterais.

Gerwig sempre achou a dinâmica de amor e ódio entre mulheres interessante.
Apesar de ser conhecida por levar os conflitos da Geração Y para as telonas, Lady Bird é tanto sobre a protagonista, quanto sobre sua mãe, Marion, interpretada por Laurie Metcalf. A deteorização do laço mãe e filha amplia os conflitos entre essas mulheres de personalidades fortes. Com performances fantásticas, as atrizes vivem uma dinâmica de grande co-dependência, mas também de quase completo ressentimento. Acima de qualquer outra coisa, Ronan e Metcalf são as responsáveis por levarem a narrativa de um extremo (drama) ao outro (comédia) em questão de minutos.

Beanie Feldstein, irmã do humorista Jonah Hill, também é um dos destaques do filme.
O resto do elenco não fica para trás, contanto com nomes como o veterano Tracy Letts, ganhador do Prêmio Pulitzer pela peça Álbum de Família; Lucas Hedges, indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo filme Manchester à Beira-Mar; e Timothée Chalamet, a grande revelação deste ano, que também é o protagonista do principal rival de Gerwig na corrida para o Oscar - o romance Me Chame Pelo Seu Nome. Também destacam-se as performances de Beanie Feldstein e Marielle Scott, em grande parte incumbidas pelos alívios cômicos da trama nos papéis de melhor amiga e namorada do irmão da protagonista.

A produção cumpre seu papel ao lidar com as temáticas propostas de uma forma sincera. O enredo não conta com grandes exageros dramáticos ou com o respaldo financeiro comum aos personagens de outros dramas adolescentes. Essa é uma história que você provavelmente já viveu e que, com certeza, já viu ser narrada diversas vezes. O grande diferencial está na ótica sob a qual ela é contada: exuberante, mas sem arrogância. É por isso que Lady Bird é um pássaro raro.

120 Batimentos por Minuto (2017) - A Urgência da Vida

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120 Batimentos por Minuto (2017), dirigido pelo marroquino naturalizado francês Robin Campillo, acompanha um grupo de ativistas LGBT franceses e seus esforços para que a sociedade e a indústria farmacêutica reconheçam a importância da prevenção e do tratamento da AIDS no seu auge epidêmico na década de 90.

O longa, que ganhou o Grand Prix de Cannes, tem na sua primeira hora um ritmo paciente, prontamente revertendo a tensão da sua cena inicial com sucessivos momentos onde acompanhamos a rotina do grupo e suas discussões sobre as táticas e resultado de suas ações, trazendo a tona uma das principais ferramentas narrativas do filme - o diálogo, repleto de conversas casuais e intensas discussões.

Inicialmente, o filme prioriza um panorama coletivo da luta pela sobrevivência, abandonando aos poucos seu caráter didático e encontrando sua força quando dá espaço para as mazelas individuais do impetuoso soropositivo Sean, interpretado por Nahuel Pérez Biscayart em uma performance excelente; e o doce Nathan (Arnaud Valois).

Ao amalgamar suas duas vertentes dramáticas - coletiva e individual, definindo um centro para si na figura de seus tardios protagonistas, a narrativa ganha um novo propósito e se torna mais fluida, ainda que se alongue em alguns momentos que se beneficiariam de um roteiro e montagem mais concisos. A abordagem de Campillo é certeira, contudo, no âmbito estético - especialmente na fotografia que mescla um naturalismo intimista - capturando perfeitamente o espírito coletivo e a intensidade nas cenas de grupo - com planos mais surreais e elaborados.

O filme não se furta de um terceiro ato trágico e pungente, criando uma atmosfera de escuridão e distâncias que exploram o cansaço e a impotência dos personagens. Nos seus momentos finais, mostra uma sucessão de potenciais desfechos e acontecimentos que provam aos personagens e ao público que não há um final aparente para aquela luta, mesmo que o filme em si atinja uma catarse inevitável quando Campillo alterna um último protesto dos ativistas com os mesmos dançando em uma pista de dança, até tornar-se uma só imagem - a luta e a festa devem continuar.

A espontaneidade de 'Me Chame Pelo Seu Nome'

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Luca Guadagnino gosta de falar sobre relacionamentos em seus filmes. Em Um Sonho de Amor (2009), a personagem vivida por Tilda Swinton – igualmente recorrente na filmografia do italiano - apaixona-se pelo amigo de seu filho, um talentoso chef de cozinha. Um Mergulho no Passado (2015), por outro lado, aborda as consequências da chegada do ex namorado de uma estrela do rock – também interpretada por Swinton – em uma ilha onde a mesma passa as férias com seu atual parceiro. Seu último trabalho, Me Chame Pelo Seu Nome, não foge à regra: o cineasta trabalha de forma sutil o desenvolvimento de cada personagem e suas interações e deixa clara toda sua habilidade em fugir de clichês e lapidar relações de maneira verossímil. 

Elio (Timothée Chalamet), um adolescente de dezessete anos que vive com sua família em uma casa onde seus pais hospedam acadêmicos que lhes auxiliam em sua pesquisa em cultura greco-romana e ao mesmo tempo desenvolvem seu próprio estudo, sente um misto de atração e fascínio pelo novo visitante, o doutorando Oliver (Armie Hammer) - que possui sentimentos recíprocos em relação ao seu anfitrião.

Como consequência dos pais que tem, o garoto recebe constantes estímulos culturais, convive com pessoas de vários locais do mundo e tem acesso a uma vasta biblioteca. É nesse contexto que sua sexualidade é explorada, o que favorece a naturalidade do processo: seus pais sabem o que acontece e não só não interferem como também apoiam, de certa forma – o que foge do estereótipo de trama cujo amor é proibido e dá espaço ao desenvolvimento da intimidade entre os protagonistas. De maneira genuína, o filme em nenhum momento mostra uma falsa ruptura do suposto momento transgressor em que Elio percebe que também sente atração por homens. Suas relações com o sexo oposto são bem estabelecidas antes mesmo de Oliver aparecer - os flertes com sua amiga Marzia (Esther Garrel) são frequentes e é nesse mesmo continuum espontâneo que seu vínculo com o hóspede é edificado, o que traz à obra um tom fidedigno e muito mais verossímil que uma alternativa conjuntura, digamos, panfletária.

O roteiro foi adaptado do romance homônimo que será lançado no Brasil no ano que vem pela editora Intrínseca. A trama é simples, mas Guadagnino incorpora diversos recursos à narrativa, inflando-a. Em certos momentos, a ambientação reflete toda a tensão sexual que permeia o enredo, como o calor maçante do norte de uma Itália intimista e arborizada aos eventos no lago ou na piscina, cujos personagens aparecem apenas parcialmente vestidos. Por outro lado, existe sempre o silêncio melancólico que evidencia a improbabilidade de tal relacionamento ou até mesmo a expectativa perante o futuro - afinal, a estadia de Oliver é temporária, ao passo que a intensidade dos sentimentos com certeza os marcará por muito tempo.

É justo também destacar a atuação de Chalamet, que consegue transitar de forma sublime tanto nos momentos em que seu personagem mostra sinais de que ainda é apenas um garoto descobrindo o mundo e a si mesmo, quanto nas cenas em que Elio mostra-se decidido e obstinado a fazer o que lhe parece certo – como quando prenuncia maturidade ao procurar o parceiro para conversar. Oliver, por outro lado, quase nunca demonstra sinais de fraqueza, mas, ao contrário, mostra-se quase como uma idealização, tanto em sua aparência quanto em sua conduta – e Guadagnino deixa clara essa intenção ao fazer sempre um paralelo com esculturas esteticamente muito bem trabalhadas. É importante ressaltar que o longa venceu o Gotham Awards, festival que constitui forte termômetro das premiações da academia – Birdman, Spotlight e Moonlight também levaram o prêmio, por exemplo.

Me Chame Pelo Seu Nome trata-se de uma história real, quase palpável em suas qualidades. A cena final vale muito a pena, especialmente pela atuação impecável de Chalamet em um único tiro enquanto Visions of Gideon, trilha composta por Sufjan Stevens, carrega o momento de tristeza e melancolia. Você com certeza ficará para os créditos finais.

"Invasão": nós realmente estamos sozinhos no universo?

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Em 2016, completou-se 20 anos do caso do “ET de Varginha”, um dos mais famosos do Brasil. Você já deve ter ouvido falar, já que a cidade do sul de Minas Gerais se tornou um ponto turístico ufológico nacional, depois que, em 1996, espalhou-se a notícia de que seres de outro planeta foram capturados lá.

Se há ou não vida fora da Terra, e se esses seres gostam de nos visitar de vez em quando, essas são questões que assombram muita gente e, inclusive, foram abordadas em famosos filmes de ficção científica. E foi procurando desenvolver o tema dentro da realidade brasileira que surgiu “Invasão”, longa-metragem independente com direção, roteiro e produção assinados por Hélio Martins Jr.

O filme traz a história de um grupo de amigos que, ao passar o feriado de carnaval em uma chácara afastada, acaba se deparando com ameaças extraterrestres. “Segundo os ufólogos, o Brasil é um dos países com maiores casos de avistamentos, foi então que eu pensei: por que não falar sobre este tema tão intrigante e, ao mesmo tempo, explorar um novo gênero para o cinema nacional?”, conta o diretor. Além da ufologia, o longa traz questões de sobrevivência, explorando como as pessoas se comportam em situações extremas e como quando a própria vida está em jogo pode refletir nos relacionamentos.

De acordo com o diretor, ainda houve uma preocupação em alinhar a história com a cultura brasileira. “Seria impossível fazer um filme nacional de uma invasão alienígena nos moldes do filme ‘Independence Day’, aqui não ia colar a história do presidente do país salvando o mundo e fazendo discursos motivadores, já que a nossa relação com o poder público é bem diferente da norte-americana”, explica.

Em "Invasão", um grupo de amigos fica isolado e sem comunicação enquanto sofre ameaças extraterrestres.

A produção de “Invasão” não contou com o auxílio de editais ou programas de incentivo. O próprio diretor arcou com a maioria dos custos, como locação, alimentação e transporte, e contou também com apoios privados, mas, para Hélio, o mérito foi da equipe. “Elenco e técnica trabalharam sem cachê, porque acreditavam que projeto poderia agregar valor às suas carreiras, isso realmente foi mágico”, diz. “Concordo que esse não é um modelo de negócio sustentável para o fomento de uma indústria audiovisual, mas é uma forma de jovens profissionais entrarem neste mercado tão restrito.”

O longa marcou presença em vários festivais, levando prêmios de melhor filme pelo júri e público, melhor atriz principal e melhor edição no Festival Civitatis de Cinema Independente 2014 de São Paulo, além de sair premiado como melhor filme de suspense no Festival de Fort Worth Indie Film Showcase, nos Estados Unidos, onde concorreu também como melhor filme estrangeiro e melhor roteiro. Para Hélio, “Invasão” ter sido reconhecido como melhor longa de suspense no festival de Fort Worth “foi incrível, pois os EUA têm uma tradição forte de cinema de suspense e foi justamente um filme brasileiro que foi premiado.”

O filme foi lançado na TV a cabo e plataformas on demand, e você pode conferir como assistir, além de outras informações sobre a produção, através da página no Facebook ou do site oficial do longa.

O Silêncio e Fúria de Ingmar Bergman em sua célebre "Trilogia do Silêncio"

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Autor de uma obra concebida em torno de estudos psicológicos acerca de seus personagens e, consequentemente, do ser humano, Ingmar Bergman é, por diversos motivos, considerado um dos maiores nomes do cinema de todos os tempos. Seus filmes costumam convergir em conflitos que abordam isolação, casamento, família, religião (crença/descrença), medo e a impotência do homem perante à força da vida. Três de seus trabalhos mais importantes e essenciais para entender a mentalidade e mensagem do autor como verdadeiro pensador do cinema compõem um arco informal que ficou conhecido como a “Trilogia do Silêncio”. São eles: "Através de um Espelho"(Sasom i em spegel, 61), "Luz de Inverno" (Nattvardsgästerna, 63) e "O Silêncio"(Tystnaden, 63).

Como pode ser observado pelo espectador ao longo da trajetória do próprio Bergman como cineasta, estes filmes trazem diversos elementos de sua carreira como dramaturgo e diretor de teatro. Há também a forte presença de outro dramaturgo sueco em notável influência, August Strindberg. São títulos pautados na simplicidade, Bergman está mais uma vez preocupado em extrair o máximo de seus atores por suas feições e diálogos, para que possam assim exprimir toda a crise de sua existência. Sven Nykvist também foi fundamental na idealização dos filmes, tendo sido o responsável pela fotografia dos três. Os contrastes de luz e sombra projetados por Nykvist dão aos personagens a densidade dramática tão característica de seu trabalho em parceria com o diretor em seu momento mais intenso.

1. Através de um Espelho (1961)


Em Através de um Espelho, uma família composta por um pai, David (Gunnar Björnstrand), o filho Minus (Lars Passgard), a filha Karin (Harriet Andersson) e seu marido, o médico Martin (Max Von Sydow), passa suas férias numa ilha onde eles têm uma casa de repouso (este cenário das Ilhas Faro seria recorrente na obra de Bergman a partir de então, e ele até viria a morar ali). David é um escritor que passa por um momento de bloqueio, enquanto Karin é recém diagnosticada esquizofrênica e, a partir dessa notícia, cada indivíduo naquele espaço passa a lidar de um jeito com a situação. Por mais de uma vez, Karin entra em colapso, o amor que David e Martin sentem por ela são colocados à prova em cenas aterradoras onde Harriet Andersson brilha enquanto conduz sua personagem ao fundo do poço. Desesperada, Karin se vê completamente desamparada quando em um de seus vislumbres, Deus se revela como uma figura monstruosa para ela, que então passa a ter outra percepção da vida.

2. Luz de Inverno (1963)

Luz de Inverno, no entanto, é uma obra diferente - centrada no pastor Tomas, novamente encarnado por Gunnar Björnstrand, que enfrenta dificuldades para confortar a si próprio e os membros de sua comunidade. Enquanto sua fé é testada por constantes visitas da paróquia, ainda lida com o sentimento da perda de sua esposa, que o torna angustiado e descrente. É incrível como Gunnar, quando fala em tom de desgosto a respeito de sua experiência como sacerdote, está tomado pelas sombras de cada cenário – falando como a consciência teimosa e pessimista de cada personagem, sempre em tons imperativos. Tomas se depara com um conflito ainda maior ao encarar um Max Von Sydow deprimido em vias de suicídio, possuído pelo medo da ameaça nuclear da época. Nesta obra, Bergman é ao mesmo tempo sutil e visceral, indo direto ao cerne da questão quando explana a solidão humana nos momentos de maior dificuldade da vida. As perdas e dúvidas que assombram a racionalidade.

3. O Silêncio (1963)

O Silêncio parece o mais cru dos três. A incomunicabilidade entre o trio de personagens é devastadora. Duas irmãs, Esther e Anna (Ingrid Thulin e Gunnel Lindblum respectivamente), e o pequeno Johan (Jörgen Lindström), filho de Anna, voltam de uma viagem de férias quando são obrigados a fazer uma parada devido a saúde de Esther. As duas irmãs são claramente distintas. Enquanto Esther é uma tradutora e notável intelectual, Anna é mais ligada aos prazeres terrenos – o conflito entre as duas se dá por muitas maneiras em mais que um plano. São perceptíveis várias camadas de texto que podem ser interpretadas à bel prazer do espectador. Todas sobre a lente de Sven Nykvist, que neste título capta alguns dos planos de alta profundidade de campo mais belos da história do cinema.

Personagens dos três filmes esperam respostas, revelações que os ajudem em seus momentos de aflição. As ideias sobre Deus e a necessidade de sentir a sua presença já haviam sido abordadas brilhantemente no que talvez seja o maior clássico de Bergman: O Sétimo Selo. Nestes três filmes, há maior dedicação a esse debate (visto que o próprio autor nega que eles formem uma trilogia),). Bergman é mais direto e não esconde a vontade de abrir o jogo sobre o que pensa a respeito do assunto, desaguando no seu tema que é sua assinatura dramatúrgica: a solidão e como o homem lida com ela. Atestando isso, está a questão familiar presente em Através de um Espelho e O Silêncio. Não atoa, a frase “papai falou comigo”, enunciada por Lars Passgard no findar da película, marcaria para o sempre o filme, pessoas que vivem juntas, porém desconexas e que aparentemente vivem bem, estão na verdade, desmoronando por dentro. A recorrência entre os temas de Bach é um vínculo interessante entre filmes. Ainda com Através de um Espelho, Bergman estabeleceria seu nome no cinema mundial ao vencer o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro pelo segundo ano consecutivo, já que A Fonte da Donzela havia conquistado a honraria no ano anterior.

A experiência com os filmes de Ingmar Bergman pode não ser a mais otimista se tratando de cinema, em alguns momentos, inclusive, é muito perceptível a ausência da esperança, a ponto de gerar um terrível incômodo ambiente. Então, espectadores acostumados a buscar sempre o bom, belo e moral na arte podem dar de cara com um cinema aparentemente monótono, mas repleto de emoção e questionamentos sobre tudo o que a vida é e pode vir a ser. Como autor, Bergman instiga seu espectador a confrontar a sua existência, questionar de onde ele tira a sua fé e de onde espera salvação. 

Leia o premiado roteiro de Lady Bird online e de graça!

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A temporada de premiações já deu sua largada e Lady Bird, premiado como Melhor Filme (Comédia ou Musical) no Globo de Ouro, é um dos principais cotados para abocanhar inúmeras indicações da Academia. O filme é a estreia de Greta Gerwig na direção e, mesmo já tendo co-escrito outras produções, essa é a primeira que ela leva os créditos do roteiro sozinha. 

Lady Bird segue a personagem que dá título à história, interpretada por Saoirse Ronan, entrando na vida adulta e encarando a realidade de seus sonhos. A protagonista parece querer renegar suas origens na cidade de Sacramento e isso cria conflitos dentro de seu ambiente familiar, principalmente com a mãe, Marion (Laurie Metcalf).

“Bem, eu sinto que é uma relação muito rica”, explica Greta Gerwig à rádio norte-americana NPR. A dinâmica entre Lady Bird e Marion é um dos aspectos mais interessantes da trama, oscilando constantemente entre amor e ódio. Para a diretora, as relações mãe-e-filha não têm muito espaço nas telonas, e quando têm, são muito simplistas. “E eu não conheço nenhuma mulher que tem uma relação simples com sua mãe”, continua.

O roteiro já está colhendo bons frutos, recebendo honrarias das associações de críticos de diversas cidades estadunidenses, como Boston e Seattle, além de ter sido indicado ao Globo de Ouro. Para propagar ainda mais a palavra do longa-metragem, a própria produtora A24 liberou o roteiro original de formaonline e gratuita. Você pode conferir ele clicando aqui.

Acesse o roteiro em PDF aqui.

A Forma da Água lidera indicações ao Oscar. Confira a lista completa!

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Com uma apresentação bem humorada, os indicados à 90ª edição do Oscar foram anunciados hoje. Este ano marca o retorno expressivo de filmes de gênero para as categorias principais, como o terror Corra! e a fantasia A Forma da Água, que lidera a competição, estando em 13 categorias. Dunkirk vem em seguida, com 8 indicações. A premiação acontece no dia 4 de março.


Veja a lista dos indicados e acompanhe nossas redes sociais para participar de nosso Bolão do Oscar. Será lançado em breve com inúmeros prêmios!

Melhor Filme
Me Chame Pelo Seu Nome
O Destino de Uma Nação
Dunkirk
Corra!
Lady Bird
Trama Fantasma
The Post: A Guerra Secreta
A Forma da Água
Três Anúncios Para um Crime

Melhor Direção
Christopher Nolan - Dunkirk
Jordan Peele - Corra!
Greta Gerwig - Lady Bird
Paul Thomas Anderson - Trama Fantasma
Guillermo del Toro - A Forma da Água

Melhor Atriz
Sally Hawkins - A Forma da Água
Frances McDormand - Três Anúncios Para Um Crime
Margot Robbie - Eu, Tonya
Saoirse Ronan - Lady Bird
Meryl Streep - The Post: A Guerra Secreta

Melhor Ator
Timothée Chalamet - Me Chame Pelo Seu Nome
Daniel Day-Lewis - Trama Fantasma
Daniel Kaluuya - Corra!
Gary Oldman - O Destino de Uma Nação
Denzel Washington - Roman J. Israel, Esq.

Melhor Atriz Coadjuvante
Mary J. Blige - Mudbound
Allison Janney - Eu, Tonya
Leslie Manville - Trama Fantasma
Laurie Metcalf - Lady Bird
Octavia Spencer - A Forma da Água

Melhor Ator Coadjuvante
William DaFoe - Projeto Flórida
Woody Harrelson - Três Anúncios Para um Crime
Richard Jenkins - A Forma da Água
Christopher Plummer - Todo o Dinheiro do Mundo
Sam Rockwell - Três Anúncios Para um Crime

Melhor Roteiro Adaptado
James Ivory - Me Chame Pelo Seu Nome
Scott Neustadter & Michael H. Weber - O Artista do Desastre
Scott Frank, James Mangold & Michael Green - Logan
Aaron Sorkin - A Grande Jogada
Virgil Williams - Mudbound

Melhor Roteiro Original
Emily V. Gordon & Kumail Nanjiani - Doentes de Amor
Jordan Peele - Corra!
Greta Gerwig - Lady Bird
Guillermo del Toro & Vanessa Taylor - A Forma da Água
Martin McDonagh - Três Anúncios Para um Crime

Melhor Cinematografia
Roger A. Deakins - Blade Runner 2049
Bruno Delbonnel - O Destino de Uma Nação
Hoyte van Hoytema - Dunkirk
Rachel Morrison - Mudbound
Dan Laustsen - A Forma da Água

Melhor Figurino
Jacqueline Durran - A Bela e a Fera
Jacqueline Durran - O Destino de Uma Nação
Mark Bridges - Trama Fantasma
Luis Sequeira - A Forma da Água
Consolata Boyle - Victoria e Abdul

Melhor Montagem
Em Ritmo de Fuga
Dunkirk
A Forma da Água
Eu, Tonya
Três Anúncios Para um Crime

Melhor Cabelo e Maquiagem
O Destino de Uma Nação
Victoria & Abdul
Extraordinário

Melhor Design de Produção
A Bela e A Fera
Blade Runner 2046
O Destino de Uma Nação
Dunkrik
A Forma da Água

Melhor Edição de Som
Em Ritmo de Fuga
Blade Runner 2049
Dunkirk
A Forma da Água
Star Wars: Os Últimos Jedi

Melhor Mixagem de Som
Em Ritmo de Fuga
Blade Runner
Dunkirk
A Forma da Água
Star Wars: Os Últimos Jedi

Melhores Efeitos Visuais
Blade Runner 2049
Guardiões da Galáxia Vol. 2
Kong: A Ilha da Caveira
Star Wars: Os Últimos Jedi
Planeta dos Macacos: A Guerra

Melhor Animação
O Poderoso Chefinho
The Breadwinner
Viva: A Vida É uma Festa
O Touro Ferdinando
Com Amor, Van Gogh

Melhor Curta-Metragem de Animação
Dear Basketball
Garden Party
Lou
Negative Space
Revolting Rhymes

Melhor Documentário
Abacus: Pequeno o Bastante para Condenar
Visages, Villages
Icarus
Últimos Homens em Aleppo
Strong Island

Melhor Documentário Curta-Metragem
Edith+Eddie
Heaven Is a Traffic Jam on The 405
Heroin(e)
Knife Skills
Traffic Stop

Melhor Curta-Metragem
DeKalb Elementary
The Eleven O'Clock
My Nephew Emmett
The Silent Child
Watu Wote / All of Us

Melhor Filme Estrangeiro
Uma Mulher Fantástica - Chile
O Insulto - Líbano
Desamor - Rússia
Corpo e Alma - Húngria
The Square: A Arte da Discórdia - Suécia

Melhor Trilha Sonora
Hans Zimmer - Dunkirk
Johnny Greenwood - Phantom Thread
Alexandre Desplat - A Forma da Água
John Williams - Star Wars: Os Últimos Jedi
Carter Burwell - Três Anúncios Para um Crime

Melhor Canção Original
Mary J. Blige, Raphael Saadiq & Taura Stinson: "Mighty River" - Mudbound
Sufjan Stevens: "Mystery of Love" - Me Chame Pelo Seu Nome
Kristen Anderson Lopez & Robert Lopez: "Remember Me" - Viva: A Vida É Uma Festa
Diane Warren & Lonnie R. Lynn: "Stand Up for Something" - Marshall
Benj Pasek & Justin Paul: "This Is Me" - O Rei do Show

E aí? Diz pra gente o que você achou dos indicados!

Indicados ao Oscar: surpresas, esnobados e feitos memoráveis

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A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou hoje os indicados ao Oscar 2018, que marca sua edição de número 90! E, de cara, a maior surpresa foi “Trama Fantasma”. O romance de duas almas sentidas fez um 'corte' inesperado em 3 categorias, incluindo a de Melhor Filme. Esta edição também ficou marcada como o retorno expressivo de filmes de gênero na categorias principais, como "Corra!" e "A Forma da Água", que lidera o quadro de indicados com 13 menções. Veja algumas surpresas, esnobados e feitos memoráveis, selecionados pelo colaborador Henrique Euzébio. 

MELHOR FILME

O drama biográfico “O Destino de Uma Nação” fez o corte e encontrou um lugar entre os indicados em Melhor Filme, mas nenhuma surpresa foi tão grande quanto “Trama Fantasma” que, contra todas as expectativas, encontrou forças para ser indicado. “Doentes de Amor” e “Eu, Tonya” não foram amados o suficiente para figurarem na lista, mas nenhuma ausência é tão sentida quanto o retrato da pobreza americana em “Projeto Flórida”. É realmente uma pena sua omissão.

MELHOR DIREÇÃO

Os favoritos ao prêmio Guillermo Del Toro (A Forma da Água) e Christopher Nolan (Dunkirk) não decepcionaram, nem Greta Gerwig (Lady Bird), que se tornou a 5° mulher apenas a ser indicada, junto com Jordan Peele (Corra!) que, por coincidência, se tornou o 5° negro apenas a ser indicado. Mas um nome brilhou nesta categoria: Paul Thomas Anderson! Um dos mais aclamados diretores em atividade, conhecido por filmes como “Magnólia”, “Sangue Negro” e “O Mestre”, PTA fez um feito histórico ao conseguir a indicação ao Oscar mesmo não sendo indicado a nenhuma das demais grandes premiações da temporada por “Trama Fantasma”. 

MELHOR ATOR & ATRIZ

Na categoria feminina não houve nenhuma surpresa. Havia quem acreditava que Meryl Streep poderia ficar de fora, bem, ela acabou superando o próprio recorde, cravando sua 21º indicação. Na categoria masculina também não houve nenhuma surpresa, apenas uma confirmação: as denúncias de abuso e assédio estão repercutindo e fazendo efeito em Hollywood. James Franco perdeu uma indicação outrora certa. Denzel Washington chegou a sua 8° indicação, desta vez pelo filme “Roman J. Israel, Esq.”. Tom Hanks também era muito aguardado na categoria, mas há 17 anos o ator não é indicado. A esnobada mais radical veio em 2014, por “Capitão Phillips”. Day Lewis anunciou sua aposentadoria em 2017. Se mantida, "Trama Fantasma" será seu último filme. Esta é sua 6ª indicação (todas na categoria principal) e pode se tornar sua 4ª vitória!

MELHOR ATOR & ATRIZ COADJUVANTES

Na categoria masculina, nenhuma surpresa: Woody Harrelson e Christopher Plummer confirmaram seu favoritismo, mas a aura dessa categoria é de tristeza, visto que nenhum dos coadjuvantes de “Me Chame Pelo Seu Nome” foram indicados. Na categoria feminina, uma surpresa: a veterana Lesley Manville conseguiu sua primeira indicação ao Oscar, por “Trama Fantasma”. Quem acabou ficando de fora foi Holly Hunter, pelo filme “Doentes de Amor”. Já Mary J. Blige escreveu seu nome na história! A rapper se tornou a primeira mulher negra a receber duas indicações ao Oscar numa mesma edição, além da indicação de Atriz Coadjuvante, ela marcou presença na categoria de Melhor Canção, com o som “Mighty River”.

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL & ADAPTADO

Em Original, o romance real “Doentes de Amor” superou “Eu, Tonya” e “The Post” para ficar com a última vaga da categoria. Nela temos 3 mulheres indicadas esse ano! Em Adaptado, “Logan” se tornou o primeiro filme de super-herói em ‘live-action’ a receber uma indicação na categoria. O grande feito veio com a roteirista e diretora afro-americana Dee Rees, que se tornou a primeira mulher negra a ser indicada ao Prêmio de Roteiro Adaptado, por Mudbound.

FEITO MEMORÁVEL! 

Rachel Morrison tornou-se a primeira mulher a ser indicada ao Oscar de Melhor Fotografia por “Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi”. A categoria de Fotografia era a única entre as 24 existentes hoje na premiação em que uma mulher nunca havia sido indicada. 

BRASIL NO OSCAR

O diretor e roteirista carioca Carlos Saldanha recebeu sua 2° indicação, agora pela animação “O Touro Ferdinando”. Saldanha é conhecido por “A Era do Gelo”, “Rio” e “Robôs”. E o Brasil volta a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme com “Me Chame Pelo Seu Nome”. A última vez que o Brasil havia sido indicado a esta categoria foi em 1985, pela coprodução “O Beijo da Mulher Aranha”. “Me Chame Pelo Seu Nome” é uma coprodução entre Estados Unidos, Itália, França e Brasil e foi produzido pela produtora brasileira RT Features, de Rodrigo Teixeira. Rodrigo também assina a produção do filme, mas seu nome não foi creditado pela Academia. Esperamos que corrijam o erro da mesma maneira que corrigiram em 2014, quando adicionaram o nome pessoal de Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio a lista de produtores indicados por “O Lobo de Wall Street”.

Texto por Henrique Euzébio.

The Post: A Guerra Secreta

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O ano é 1971. Após três meses de estudo dos documentos vazados do Pentágono, o ‘The New York Times’ lança uma edição bombástica revelando que o governo norte americano mente para seu povo há mais de 30 anos. Entre as revelações, está a de que o governo sabia que não havia como vencer a Guerra do Vietnã e, ainda assim, continuou enviando soldados americanos para a morte. Mas após uma liminar federal, com base na antiga Lei de Espionagem, o jornal é proibido de publicar qualquer coisa sobre o assunto. Quando os documentos vazados chegam ao ‘The Washington Post’, e eles descobrem que a publicação de qualquer página daquele documento acarreta na acusação de conspiração contra o governo americano, caberá a uma mulher decidir se calar diante da oposição de um governo questionável ou defender a verdade e a liberdade de imprensa, correndo o risco de perder seu jornal e liberdade.

É neste cenário de extrema tensão e medo que se desenrola o novo filme de Steven Spielberg, feito “às pressas” assim que Donald Trump foi eleito Presidente dos Estados Unidos. Rodado e finalizado num período de apenas 6 meses, chegou ainda em dezembro aos cinemas norte americanos, trazendo Meryl Streep no papel da falecida proprietária e editora do ‘Post’, Kay Graham, e Tom Hanks como o ex-editor do jornal, Ben Bradlee. É notável que se diga que esta foi a primeira vez que contracenaram juntos! Por si só já vale o ingresso! E a química da dupla é fantástica. De um lado, um Hanks impulsivo, determinado, sempre convicto, tentando persuadir Graham a tomar seu lado. Do outro, uma Streep dando vida à uma personagem de fibra, que mede o tamanho das consequências que suas decisões e as de seus imediatos podem ter, que lida da melhor forma possível com uma crise interna que definirá o futuro de sua empresa na bolsa de valores, ao mesmo tempo em que tem de enfrentar, dia após dia, o machismo dos anos 70 dentro de seu próprio jornal.

Mas não é só a dupla de protagonistas que brilha, Spielberg reuniu um elenco de primeira para trazer esta estória para a tela grande. Destaques como Matthew Rhys, que ‘brinca’ de espião mais uma vez, e Bob Odenkirk, que dá vida a um dos repórteres investigativos do ‘Post’. Talvez a maior façanha de Spielberg neste filme seja a direção de atores. Extrair um elemento essencial de seu time: a tensão através do olhar. O medo, expectativa, dúvida e perigo são sempre reforçados pelo olhar, e o tempo dramático tanto da direção como da montagem é crucial para explorar mais essa virtude da obra. E, neste sentido, quem brilha intensamente é Streep. Através de seus olhos, conseguimos sentir todo o peso que está sobre seus ombros, em particular na cena do telefonema em que ela deve fazer uma importante escolha, sob enorme pressão. Streep tem a virtude das atrizes que nos fazem esquecer que estamos assistindo a filme. Quando está em cena, mergulhamos de cabeça na narrativa. ‘The Post’ nos lembra porque ela é considerada uma das maiores atrizes de todos os tempos!

A assinatura de Janusz Kaminski na direção de fotografia também merece ser reconhecida aqui. Seu eficiente jogo de luz e sombra compõe um dos conceitos criativos que guiam o filme. É de extrema importância aqui, ao lembrarmos que os personagens estão cobertos de apreensão. Para a maioria, está em jogo não apenas o emprego, mas a própria liberdade, visto que correm o risco de serem presos. Bob Odenkirk é particularmente agraciado pelo trabalho de Janusz, em uma cena com Jesse Plemons na qual seu rosto se enche de dúvidas, receios e incertezas.

É necessário também apontar que o enredo tem suas fraquezas. A principal deles é o excesso de alívio cômico, com a da personagem filha de Ben Bradlee que vende limonada. A jovem interfere em pelo menos umas 4 cenas, em momentos cruciais da narrativa. A mais notável e incômoda interferência ocorre em uma cena em que ela é vista ao fundo carregando as peças de sua barraca, distraindo-nos de um importante diálogo em primeiro plano, apenas para extrair algumas risadas. A ridicularização da figura do Presidente Nixon tende ao caricato por vezes excessivo. São com excessos como esses que Spielberg se perde em alguns momentos.

“The Post”, apesar destes deslizes, se sustenta. É uma importante odisseia não só de luta contra o autoritarismo e a favor da liberdade de imprensa, como a jornada de ascensão de uma mulher lutando para ganhar seu espaço e direito de decisão. Streep ascende sua personagem a uma posição de júbilo em um tempo em que ser mulher em posição de poder era considerado ultrajante.


Calendário de lançamento de todos os indicados ao Oscar 2018

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O Oscar chegou em sua 90ª edição! E chegou bem! Marcada pelo retorno dos filmes de gênero nas categorias principais, como o terror Corra! e a fantasia A Forma da Água, a edição traz uma das melhores seleções recentes na categoria Melhor Filme. Seja quem for o vencedor da noite, a estatueta estará em boas mãos. A Forma da Água, Dunkirk e Três Anúncios Para um Crime lideram com 13, 8 e 7 indicações cada.

Você também gosta de maratonar para chegar no dia da premiação estando por dentro de tudo? Para te ajudar a não perder nenhum filme, listamos todos os 44 indicados (salvo curtas metragens) dividindo-os em "já lançados", "em cartaz" e "em breve". A maior parte dos filmes já estreados no Brasil podem ser encontrados em DVDs ou Blu-Rays. Dois deles estão disponíveis na Netflix.

Agora é só pegar a agenda e reservar as datas.
A cerimônia de premiação acontece no dia 04 de março.
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Confira a lista completa dos indicados por categoria: clique aqui

Categoria Melhor Filme:


• Já lançados:
Dunkirk
Corra!

• Em Cartaz:
Me Chame Pelo Seu Nome
O Destino de Uma Nação
The Post

• Em Breve:
01/02 - A Forma da Água
15/02 - Lady Bird
15/02 - Três Anúncios Para um Crime
22/02 - Trama Fantasma


Demais categorias:


• Já lançados:
Blade Runner 2049
Star Wars: Os Últimos Jedi
Em Ritmo de Fuga
A Bela e a Fera
Victoria & Abdul
Logan
Doentes de Amor
Guardiões da Galáxia Vol. 2
Kong: A Ilha da Caveira
Planeta dos Macacos: A Guerra
O Poderoso Chefinho
Com Amor, Van Gogh
Uma Mulher Fantástica (Chile)
O Rei do Show
Ícaro (Doc) (Netflix)
Strong Island (Doc) (Netflix)

• Em Cartaz:
Viva: A Vida é uma Festa
O Artista do Desastre
Extraordinário
O Touro Ferdinando
Visages, Villages (Doc)
The Square (Suécia)
Corpo e Alma (Hungria)

• Em Breve:

01/02 - Todo o Dinheiro do Mundo
01/02 - O Insulto (Líbano)
01/02 - Desamor (Loveless) (Rússia)
15/02 - Mudbound
15/02 - Eu, Tonya
22/02 - A Grande Jogada
01/03 - Projeto Flórida

• Ainda sem previsão:
Roman J. Israel, Esq.
The Breadwinner
Marshall
Abacus: Pequeno o Bastante para Condenar (Doc)
Últimos Homens em Aleppo (Doc)

Quantos dos 44 indicados você já viu? Conte pra gente nos comentários!

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